Sobre valorizar o fácil: Porque gostamos mais do difícil?
- Gabriela Bez
- 22 de ago. de 2018
- 2 min de leitura
Você conhece alguma pessoa que costuma dizer que tem um trabalho muito difícil? Que trabalhou 15 horas e está muito cansado? Ou quem sabe alguém que sempre conta como passou dificuldades na vida? Quem sabe aquele cara que fala o quão difícil foi conseguir aquela mulher… Porque será que gostamos tanto do difícil?

É muito comum que a sociedade valorize quem é assim: Gente que trabalha muito, que teve que correr muito atrás, que teve que ir a luta. Quanto mais a gente se esforça, mais guerreiro a gente é. Quanto mais difícil, melhor. Não é muito comum que as pessoas adorem contar as dramáticas histórias de suas vidas? Como elas sofreram, como passaram por aquilo, como superaram tudo?
Por exemplo, eu tinha dificuldade de aceitar que eu sou uma digital influencer porque as pessoas o veem esse trabalho como algo fácil (apesar de não ser!): Trabalhamos com o que gostamos, de casa, temos horários flexíveis e etc. Eu preferia dizer que sou empresária porque é muito mais difícil e muito mais "bem visto". Mas aí eu me pergunto: qual o problema de algo ser (considerado) 'fácil?'.

Porque será que quando alguém fala que nosso trabalho é fácil a gente entende como ofensa? É claro que quando alguém fala isso pra nós é bem provável que essa pessoa esteja querendo nos desqualificar. Contudo, porque que a gente acha que o fácil não vale?
Isso acontece muito em relacionamentos também. Se a mulher é faáil, o cara não gosta. Agora, se ele teve que correr atrás, mandar mil e uma flores, insistir por mais de seis meses para que ela saísse, aí sim. Aí ele tem o seu troféu. Olhem como eu consegui aquela que ninguém conseguia. Olha como eu sou foda. É mais ou menos por aí.
Isso tudo é porque o ego gosta do sofrimento. Ele gosta de ser valorizado e, por ser formado pelo social, ele quer ser aceito. O social ama pessoas que lutam porque vivemos com valores de guerra e não de amor. O ego sente que tem valor a medida que se esforça. Como diria a Gisela Valim, não existem jogos do amor e sim jogos do ego. O ego quer poder, aquilo que é dificíl para que ele possa lutar e contar sua história afinal, se for fácil, qual a graça vai ter? Como contar para os outros?

Não me entendam mal. Em momento algum eu quero desmerecer o valor do trabalho duro até porque, eu mesma também o faço. Contudo, o grande problema é que vivemos em uma sociedade que supervaloriza o sofrimento. Portanto, se fazemos algo que é considerado fácil e não temos a necessidade da luta, não somos bem vistos e até não damos valor a tais conquistas. Tudo pelo simples fato de ser fácil. Nossa sociedade quer o difícil, uma história cheia de lutas e batalhas. Vivemos dormindo e por isso, somos completamente dominados por esse valores egóicos.
Porque não ter o fácil? Porque o fácil não pode ser bom? Tudo que vem fácil vai fácil? Será mesmo que é assim?
Ou será que é assim porque você acredita que é assim?
O que vocês acham?
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